24-6-2011

 


 
   

Publicado em Telheiras - Cadernos Culturais Lumiar - Olivais - Telheiras

2.ª Série n.º 9, Dezembro de 2016, pgs.187-205.

 

 

NICOLAU CLENARDO

(1493 ou 1494 – 1542)

 

   

As páginas indicadas entre parênteses referem-se à edição das Cartas de 1606, que foi também a utilizada em todas as citações.

 

 

Em Portugal, as pessoas são levadas a crer que Nicolau Clenardo (1493 ou 1494 – 1542) apenas é conhecido em Portugal, e isto por aqui ter estado ao serviço da Corte de 1533 a 1538. Esta ideia deve-se ao facto de ele ter sido estudado pelo Cardeal Cerejeira na sua tese de doutoramento, onde se interessou pelas cartas em que ele se refere a Portugal (ver quadro) e pelo período da sua vida em que ele aqui esteve. É uma perspectiva muito redutora e não correcta. Clenardo foi sobretudo um grande pedagogo da língua grega, tendo a sua gramática desta língua sido inserida em várias centenas de edições (muitas acrescidas de escólios), ao longo de mais de dois séculos.

Por sorte, vários eruditos belgas interessaram-se por estudar a sua bio-bibliografia no último século e meio. Entre estes, cumpre destacar Adolphe Roersch (1870-1951), que o estudou praticamente durante toda a sua vida, publicando um monografia muito conhecida e citada em 1900 (em colaboração com Victor Chauvin) e a “Correspondance de Nicolas Clénard”, em três volumes, nos anos 40.

Nicolas Cleynaerts (em Latim, Nicolaus Clenardus), nasceu, segundo ele diz, em 1493 ou 1494, no mês de Dezembro, por volta do dia 6, que é o do seu santo patrono. Já no século XX, descobriu-se que a família usava também o nome “de Beke”, sendo uns Cleynaerts alias de Beke, outros de Beke alias Cleynaerts. Nos registos da Universidade de Lovaina, figura com o sobrenome “de Beke”.

Foi natural de Diest, no Brabante e era o mais velho de 5 irmãos e 2 irmãs; a sua família era abastada, tanto que lhe pagou os estudos na Universidade. Foi para Lovaina estudar no Colégio denominado "Paedagogium Porci" em 1512, e em 1515 obteve o título de Mestre em Artes, classificado em 3.º lugar entre 152 concorrentes. Ficou a ensinar no mesmo Colégio e foi depois estudar Teologia, em que ficou Bacharel em 28-9-1521 e obteve a licenciatura em 4-6-1527.  Mas diria ele mais tarde não ser grande teólogo: At non sum grandis Theologus (pag. 288). Na Faculdade de Teologia conheceu e foi amigo de Latomus (1475-1544), por quem teve toda a vida grande admiração. Pouco depois foi ordenado sacerdote, pois a família orientava-o para tomar conta de uma paróquia.

Obtivera entretanto autorização para ensinar publicamente, nomeadamente Grego e Hebraico. Foi dar aulas no Colégio de Houterlé, menos nobre que o Colégio das Três Línguas, onde Rutgerus Rescius (1497 – 1545) ensinava Grego e Johannes Campensis ou Jan Van Campen (1491-1538), Hebraico. Foi Presidente do Colégio a partir de Julho de 1521 e durante dez anos. Durante essa década, escreveu Clenardo os seus manuais de Grego e de Hebraico, que fizeram a sua notoriedade.

Desde há muito que Clenardo se interessava também muito pelo Árabe, mas não sabia onde poderia ir estudar a língua. Foi então que um aluno do seu Colégio lhe ofereceu um exemplar do Psalterium Nebiense, com tradução Hebraica. Grega, Árabe e Caldaica (ver bibliog.). Mas o texto árabe não tinha vogais. Clenardo explica com muito pormenor (pag. 262) como, comparando os nomes próprios, conseguiu identificar as letras do alfabeto árabe. Mais tarde, conseguiu descobrir os pronomes e as desinências dos verbos (pág. 266, 267).

Em 1529 vagou o lugar de Administrador do Colégio de Saint-Pierre, a que ele também concorreu; mas o lugar foi dado a Petrus Curtius ou Pieter de Corte (1491 – 1567), que foi mais tarde o primeiro Bispo de Bruges.

Roersch pressupõe que foi na sequência deste falhanço, que os pais de Clenardo se movimentaram para lhe obter a nomeação de Cura das “Béguines” de Diest, o que conseguiram. Deste modo, assegurar-lhe-iam um rendimento fixo e teriam a certeza que ele permaneceria junto deles. Apareceu, porém, outro candidato ao lugar que contestou a nomeação por todos os meios. O processo foi muito longo (oito ou nove anos) e fez com que Clenardo ficasse a odiar os advogados para toda a vida, o que ele repetidamente diz às claras nas suas cartas.

 

A IDA A PARIS

 

A gramática hebraica de Nicolau Clenardo está datada de 29 de Janeiro de 1529 e as Institutiones in Linguam Graecam, de 27 de Abril de 1530. Segundo Roersch, foi nas férias de 1530, que Clenardo partiu de Lovaina com a intenção de ir passar algum tempo em Paris (pag. 269). Dirigiu-se a Liessies na província de Hainaut para visitar o seu amigo, o Beneditino Louis de Bois (Ludovicus Blosius (1506-1566)), recentemente nomeado Abade do Convento daquela localidade. Depois foi ter com o seu amigo e mestre Jacques Latomus, então Cónego em Cambrai, pedindo-lhe conselho sobre a sua projectada viagem a Paris. Este aprovou a ideia e confiou-lhe um seu sobrinho (Latomus júnior), para que Clenardo o instruísse, trabalho por que recebeu 30 coroas (pag. 75). Para além disso prestava-lhe serviço como intérprete, pois Clenardo (mais ou menos como os flamengos de hoje!) não falava Francês.

Clenardo adorou Paris: o clima, os modos das pessoas, os muitos sábios que ali havia (pag. 75). Pôs-se a dar lições de Grego e de Hebraico nomeadamente ao Português Roque de Almeida (pag. 270), um Franciscano que mais tarde deu muito que falar e que só escapou à Inquisição porque faleceu pouco tempo depois de regressar a Portugal. Este gabou-lhe muito o ensino da Universidade de Salamanca, onde, segundo ele, havia até um professor de Árabe, o que não correspondia à verdade.

Tinha trazido exemplares dos seus livros, que tinham muita procura em Paris e pôs-se a vendê-los. Fez imprimir uma 2.ª edição (pag. 76) das Institutiones, diz ele que no tipógrafo Simon de Colines. Roersch “queixa-se” de não ter encontrado nenhum exemplar e que os bibliógrafos que estudaram aquela tipografia não indicam a edição. Nem podiam indicar, porquanto o tipógrafo que figura nesta edição de 1530 é Louis Blaubloom, de Gand, ou Lodovicus Cyanius, um amigo flamengo onde ele estava hospedado (ver final da carta “Accepi heri”, pag. 76).  A edição indica “apud Lodovicum Cyanium e regione collegii Cameracensis” e dela existe um exemplar na B.N. de France. Cyanius teria um acordo comercial com Simon de Colines e Clenardo fez confusão ao indicar a tipografia.

Na carta de 21 de Outubro de 1530,  dirigida ao seu colega de curso Frans Houwers ou Franciscus Hoverius, de Mechelen, que se formara em Artes no mesmo ano de Clenardo (1515), classificando-se em 9.º lugar, Clenardo conta, radiante, que já vendera todos os exemplares de que dispunha: 500 das Institutiones e mais de 300 da Gramática de Hebraico (pag. 76).

Embora tentado a ficar por Paris (pag. 76), acabou por regressar à sua querida Lovaina, em meados de 1531. Antes disso, contratou a impressão em Paris das Meditationes Graecanicae que saíram praticamente ao mesmo tempo em Paris e em Lovaina (pag. 74).  

 

PARTIDA PARA O EXÍLIO

 

Depois dos estudos, primeiro a vida correra bem a Clenardo. Fora muito feliz dirigindo o Colégio de Houterlé, como ele próprio diz na carta de 26-12-1536 ao Cardeal Aleandro:

 

Memini ante annos quindecim, levi quodam verbo, nescio quid honoris ad senem unum deferre; is non ita multo post, quod ne per  somnium quidem speraveram, industria favoreque suo decemnale meis literis otium peperit.

 

Lembro-me que há quinze anos, por somente uma pequena conversa, prestei não sei que honra a um idoso. E este, pouco depois, pelo seu empenho e a sua protecção, proporcionou-me dez anos de tempo livre para os meus estudos: coisa que eu nunca teria esperado, nem mesmo em sonhos.

 

Mas agora, Clenardo vivia insatisfeito. Pelas provas que já tinha dado, pelos livros que tinha publicado, aspiraria certamente a ensinar no Colégio das Três Línguas. Quando em 1531, o professor de Hebraico, Johannes Campensis se demitiu, partindo para Polónia, Itália e Alemanha, o lugar foi para André Van Gennep (1484-1568), que ali ensinou Hebraico até à sua morte, aos 84 anos.

O processo da sua nomeação como Cura das “Béguines”, seguia o seu lento curso e ele só não desistiu logo por ter sido impedido pelos seus familiares.

À insatisfação com a vida na Bélgica, juntava-se o desejo de aprender Árabe, o que era impossível naquele País, despertando-se-lhe o desejo de ir para Espanha.

Quando Clenardo vivia com estas preocupações, apareceu em Lovaina Fernando Colombo (1488-1539), filho de Cristóvão Colombo, que procurava gente sabedora que o auxiliasse a organizar uma grande biblioteca em Sevilha. André de Resende indicou-lhe Clenardo, a quem já dissera muitas vezes que havia de ir para Portugal (pag. 274). Clenardo aceitou um contrato por três anos, o tempo que os seus familiares consideravam suficiente para ganhar o processo da nomeação de Cura das “Béguines”. O seu amigo Johannes Vasaeus (1511-1561) de Bruges foi contratado também por igual período.

Uma carta dirigida em Novembro de 1531 por Martin Lypsius (1492-1555), tio avô de Justus Lypsius (1547-1606), a Erasmo (Carta n.º 2566,linhas 204-205) refere-se à partida de Clenardo: “Almocei (possivelmente em Outubro ou ainda antes) com Rutgero (Rescius), que por minha causa convidara Clenardo e alguns (outros) Teólogos. Despedi-me de Clenardo que partia para Espanha”.

Foi em Outubro de 1531 que o pequeno grupo, capitaneado por Fernando Colombo, se pôs a caminho. Era constituído por Clenardo, Vasaeus e um arrieiro; em França juntar-se-lhes-iam Johannes Antonius, dito Hammonius (de Fontanet, na Borgonha, Doutor em direito, contratado também para a Biblioteca Colombina) e um criado francês. Foram por Cambrai, para se despedirem de Latomus. Pararam dois dias em Paris para rever os amigos e depois seguiram viagem. Clenardo descreve divertido a figura ridícula que ele e Vasaeus faziam como cavaleiros, despertando o riso de Colombo e das populações por onde passavam (pag. 275).

A viagem tornou-se mais penosa à chegada a Espanha, onde as estalagens deixavam mais a desejar. Chegaram à Cantábria na véspera de S. Martinho, dia 10 de Novembro, portanto. Seguiu-se Vitória, Burgos, Valladolid (Pincia, em Latim), onde se demoraram dez dias, à espera que lhes arranjassem acomodação em Medina del Campo. Chegaram finalmente a esta cidade, onde estava a Corte da Imperatriz Isabel, esposa de Carlos V e filha de D. Manuel I. Alojaram-se em casa da Vice-Rainha das Índias, D. Maria de Toledo, viúva de Diogo de Colombo, e portanto cunhada de Fernando Colombo (pag. 23).Claro que ali nada lhes faltava.

Pouco depois partiram para Salamanca. Ali, a pedido do Bispo de Córdova, Juan de Toledo, Clenardo tomou a seu cargo a educação de seu sobrinho, Luis de Toledo, filho de Vice-Rei de Nápoles. Ficará em Salamanca por dois anos (pag. 148).

Continuou a interessar-se pelo estudo do Árabe, mas sofreu a desilusão de não encontrar professor algum da língua na Universidade. Entretanto, começou a dar aulas privadas de Grego.

Colombo reclamou  então um pagamento a fazer nos termos do contrato entre ambos: se, no prazo de seis meses, Clenardo não conseguisse uma cadeira na Universidade de Salamanca, teria de lhe pagar 50 ducados. O pagamento foi feito através de Vasaeus e foi conduzido amigavelmente.

Começou a dar as aulas privadas em 29 de Abril de 1533, data em que escreveu a carta a Vaseu que começa “Acceptis iam…” (pag. 143).

Visto o número de ouvintes conseguido por Clenardo, o Senado académico ofereceu-lhe uma cadeira pública de Grego e de Latim, em condições muito favoráveis. Logo o quiseram pôr a ensinar também Árabe, mas ele recusou (pag. 146).

As aulas começaram dia 5 de Novembro de 1533. Mas, doze dias depois, apareceu-lhe André de Resende, convidando-o para professor do Infante D. Henrique (1512-1580), com pouco trabalho e pagamento vultuoso. Resende ainda não tinha dado sinal de si desde Lovaina (Resendius hactenus nihil ad me – Carta a Vasaeus, de 5-11-1533, pag. 148). Para melhor o convencer, Resende disse-lhe que havia em Évora um médico que sabia Árabe.

Clenardo receberia em Portugal 100 000 réis anuais, equivalente a 200 ducados, devendo receber igual pensão na sua velhice, enquanto o Príncipe fosse vivo. Duvido muito que esta oferta correspondesse à real vontade do Infante D. Henrique: é demasiado desproporcionada. Ou Clenardo percebeu mal, ou Resende excedeu as suas instruções – acho eu.

Clenardo chegou a Évora ainda antes do final de 1533. Foi apresentado a D. João III e aos Infantes que o receberam muito amavelmente, e até lhe deram 50 ducados a título de prenda de boas vindas (pag. 161).

O trabalho com a educação do Infante não era muito: apenas uma hora por dia e ainda era preciso que ele não estivesse ocupado.

Não tardou a criar amigos. Antes de mais, André de Resende e Jorge Coelho, os poetas rivais, este último Secretário do Infante D. Henrique; Joannes Parvus ou Jean Petit, francês doutorado em Paris, mais tarde Bispo das Ilhas de Cabo Verde, que deu a Clenardo muitas provas da sua amizade; Francisco Melónio, literato e Francisco Geraldes, médico que o curou. António Filipe, o médico que lhe tinham dito saberia Árabe; não saberia muito, mas emprestou-lhe livros em Árabe (pags. 190 e ss.).

Clenardo costumava tomar as refeições em casa de Jean Petit. Mas, a certa altura, pensou que perdia tempo demais na conversa e decidiu montar casa em Junho de 1535 (pag. 174). Tinha já um criado flamengo, Guilherme, que o acompanhara desde Salamanca. Comprou dois escravos: o mais velho de nome Miguel a quem chamou Dentus; o segundo António Nigrinus, com cerca de 12 anos. Pouco depois adquiriu um terceiro chamado Sebastião, baptizado de Carbo (carvão) por Resende. Tratou de lhes ensinar Latim, até porque não se tinha dado ao trabalho de aprender Português (pag. 116).

Nesta altura, já ele tinha recebido a triste notícia do falecimento de três dos seus companheiros de viagem: Hammonius falecera em Sevilha em 1534 de um delírio frenético, um francês que haviam trazido como criado afogou-se no Guadalquivir e o arrieiro que os acompanhara desde Lovaina, falecera em Salamanca. Tres abstulit triennium! exclama ele (pag. 23). 

 

A MORTE DE ERASMO

 

Erasmo faleceu na noite de 11 para 12 de Julho de 1536. Possivelmente a notícia já era conhecida, mas Damião de Góis e Joaquim Polites comunicaram a notícia em cartas que não chegaram até nós  (pag. 76). Parece-me que Clenardo sentiu a morte do humanista e que é sincero quando diz “Lacrymas tenere non potui - não pude conter as lágrimas” (pag. 76). Anteriormente já correra o boato da morte dele (pag. 185, onde Erasmo é chamado ironicamente “amigo dos frades”). Depois, na carta de 27 de Dezembro de 1536 a Joaquim Polites (pag. 98), refere o acontecimento muito extensivamente num estilo muito próprio que tem sido muito criticado. Henry de Vocht, no livro History of the Foundation and the rise of the Collegium Trilingue (1951) diz que a carta é uma “indecent mummery”, que podemos traduzir por “estilo chocarreiro”. Não concordo, pelo menos totalmente. A minha interpretação é a que segue:

Clenardo deverá ter considerado representação o sentimento de dor pelo falecimento de Erasmo, manifestado por André de Resende. Afinal, Erasmo tinha-lhe pregado uma grande partida ao publicar o Encomium Erasmi, que fez com que fosse expulso de Lovaina. Propôs então que todos (convidou também Joana Vaz, mas dela nenhum poema chegou até nós) escrevessem versos à morte de Erasmo e ele mesmo o fez em versos dignos, mas algo irónicos. Erasmo havia atingido a imortalidade, que só se consegue com a morte terrena. É uma morte que deve ser celebrada, porque surgiu uma nova estrela no mundo das Letras. Além disso, Erasmo restaurou a clareza das Sagradas Escrituras, ele que usava ambas as línguas (Latim e Grego) com igual maestria.

Resende escreveu três poemas sobre o assunto, um para Clenardo, outro para Damião de Góis e um terceiro para André Cotrim.

A carta prossegue depois com uma teoria poética de Clenardo que, mesmo em Latim, defende a criação de novas figuras da métrica, não ficando amarrado aos clássicos. É preciso notar que, embora a carta seja dirigida a Polites, este vivia na mesma casa que Damião de Góis e o futuro cunhado deste, Splinter Van Hargen. A carta é para todos, é literatura estudantil, com a leveza que caracteriza a vida de estudantes.

  

VIAGEM A BRAGA

 

O Infante D. Henrique decidiu deslocar-se a Braga para aí afirmar a sua autoridade como Arcebispo que era. Clenardo teria preferido ficar em Évora, mas recebeu ordem para o acompanhar. Apenas conseguiu autorização para partir uns dias depois dele.

Com o seu fiel criado Guilherme, os três escravos negros e dois arrieiros com três mulas e dois cavalos, partiu de Évora a 30 de Julho de 1537 (pag. 31).

A viagem foi fértil em acidentes, que ele narra com uma espécie de humor negro. Na primeira estalagem, a água custava tanto como o vinho custaria em Lovaina e dormiram mal. Na segunda, dormiram ainda pior (pag. 32). As estalagens eram más e caras, tanto assim que ele diz perceber por que é que o Tejo é aurífero: é porque leva o ouro dos viandantes.

Chegaram por fim a Coimbra (pag. 35, 222, 299). Visitaram a Universidade semi-deserta, porque os estudantes estavam de férias. Mas, segundo diz, assistiu a uma aula de Grego de Vicente Fabrício, que falava apenas naquela língua. A 12 de Agosto, chegaram à cidade de Braga.

Depois de alguns dias de repouso, Clenardo parte a 22 de Agosto em peregrinação para Santiago de Compostela.  Clenardo adorou a Galiza, como mostra na carta que em 8 de Setembro (de 1537) escreveu a Jean Petit (pag. 217). Concede que na região desde Braga até ao Rio Minho, os montes e os campos são de uma admirável beleza, mas constata que o vinho, o pão, a carne e tudo o que convém a viajantes cansados se encontra melhor na Galiza do que em Portugal.

No regresso passaram por Ponte de Lima, onde adoeceu o potro de Guilherme. Depois, Viana do Castelo, Barcelos e por fim, Tebosa. A 6 de Setembro, estava de volta a Braga.

Queria o Infante D. Henrique, Arcebispo de Braga, fundar na cidade uma escola para a juventude. Clenardo propôs Vasaeus para Director e professor. D. Henrique concordou e ele dirigiu-se a Salamanca para o convidar. Trouxe-o com ele e apresentou-o ao príncipe em Coimbra (pag. 80), concluindo-se ali o contrato. Voltaram a Braga, enquanto Vasaeus foi a Salamanca buscar a família.

Vasaeus iniciou funções em Junho de 1538. Em Novembro do mesmo ano, Clenardo deixou Braga.

Quando estava em Braga, espalhou-se na Europa o boato de que Clenardo iria ser nomeado Cardeal. Mas se ele falou nisso, deixou claro que era em tom de brincadeira (pag. 36). Roersch é de opinião que o boato surgiu devido ao costume que ele tinha de encenar personagens nas suas aulas, em que ele próprio fazia figura de Cardeal (pag. 247). A ideia terá permanecido depois da sua morte em virtude de nos Aliquot Opuscula de Damião de Góis, publicados em 1544, aparecer o subtítulo “Epistolae aliquot ad Cardinales, Petr. Bembum, Jac. Sadoletum, Nic. Clenardum, Jo. Vasaeum, et illorum responsiones”.

Outra acusação que lhe fizeram foi a de ter ciúmes do sucesso de Johannes Campensis. Como já referido, este havia abandonado o ensino do Hebraico para entrar ao serviço de Johannes Dantiscus (1485-1548). As relações de Clenardo com ele arrefeceram um tanto, mas o que o aborrecia era o facto de Campensis não responder às suas cartas nem sequer mandar recado. Era o seu modo de agir.  “Resendium ne salutes, nunquam enim resalutat” (231) – Não dês cumprimentos meus a Resende, ele nunca retribui”. Só a Latomus, por quem tinha uma consideração muito especial, é que ele perdoava que não lhe respondesse às suas longas cartas.

Clenardo pediu dispensa das suas funções a D. Henrique que lha concedeu. Mas ele ficou convencido que continuaria a receber a pensão anual de 100 000 réis.

Tendo partido de Braga, Clenardo dirigiu-se a Saragoça à procura de alguém que lhe ensinasse Árabe. Porém, ao passar em Coimbra, ouve dizer que em Sevilha há um oleiro que ensinou árabe a Hernando Nuñez. Mas na olaria, o operário nem lhe fala, temeroso de contactar um estrangeiro por causa da Inquisição (pag. 37).

Sem desanimar, Clenardo dirige-se ao mercado e consegue encontrar um Tunisino cativo que sabe Árabe. Com ele tem lições durante oito dias, mas depois o professor recebe dinheiro enviado de casa para comprar a sua liberdade (pag. 83). O Tunisino, entretanto, indicara-lhe um escravo que estava em Almeria, depois de Granada, muito sabedor (pag. 38 e ss).  Vai então a Alhambra apresentar-se ao vice-Rei da província, o Marquês Luis de Mendosa de Mondexas (pag. 252). Este escreve ao dono do escravo cativo que pede 200 ducados por ele. Dirige-se Clenardo a Almeria e tem o desgosto de verificar que o preço tinha subido para trezentos ducados (pag. 39). Então o Marquês procedeu à compra do escravo na condição de que Clenardo adiaria a sua partida de Março (1539) para Janeiro de 1540, a fim de ensinar grego ao Marquês e a seu filho (pag. 39, 83).

Este período foi muito útil a Clenardo para a aprendizagem da língua Árabe.

 

VIAGEM A ÁFRICA

 

Clenardo deixou o seu mestre árabe em Granada (pag. 55) e dirigiu-se para Gibraltar com Guilherme e o seu escravo António Nigrinus. O estado do mar, porém, reteve-o durante três semanas (pag. 52) e depois atrasou mais a partida para passar a Páscoa em terras cristãs. Mandou António para Granada, porque o aconselharam a não o levar e a 10 de Abril, embarcou para Ceuta com Guilherme (pag. 52).

Clenardo sabia bem que a sua empresa era muito perigosa. Se soubessem que ele queria converter muçulmanos ao Cristianismo, não hesitariam em o lapidar (pag. 85). Por isso ele dizia-lhes que queria aprender árabe para o ensinar na Europa, onde as pessoas queriam saber ler os tratados dos reputados médicos árabes, por exemplo, Avicena e Averroes (pag. 86).

Depois de uma grande tempestade, arribaram a algumas milhas de Ceuta. Descansaram quatro dias (pag. 40) e dirigiram-se a Tetouan. Partiram de novo a 29 de Abril para Fez, onde chegaram a 4 de Maio.

A cidade de Fez dividia-se em três partes: a cidade nova, sede da Corte; a Alfândega, onde habitavam os mercadores cristãos; e o ghetto ou judiaria, onde habitavam os judeus. Clenardo não queria misturar-se com os aventureiros europeus e, por isso, instalou-se no bairro judeu (pag. 87, 228).

Foi recebido pelo Sultão com quem falou em árabe, o que, diz ele, causou muita admiração. O Sultão pediu-lhe que mandasse vir de Espanha o professor de Clenardo, que tinha muito boa reputação em Fez e prometeu comprar a sua liberdade. Para além disso, poderia continuar a tê-lo como professor. Segundo parece, o Sultão pagou de facto a remissão do cativo, mas Clenardo perdeu-o como professor.

A tarefa de Clenardo era dificultada por ele querer aprender não o Árabe falado nas ruas, mas sim o Árabe mais literário do Corão. Para isso, ele tinha necessidade de encontrar livros ou manuscritos onde os pudesse estudar.

É fácil imaginar a estranheza que sentiram os habitantes de Fez ao ver um padre católico, que vivia no bairro dos Judeus, a procurar manuscritos árabes que falassem da religião muçulmana. No espírito de Clenardo, a meta era a fundação de uma escola de ensino do Árabe no Barbante que permitisse aos ocidentais combater os erros da religião de Maomé.

 

AS INTRIGAS DO MONSTRO

 

Quando tudo parecia correr bem, entra Clenardo a falar de um monstro que encontrou em Fez, sem indicar a sua identidade; diz, porém, que era português (pag. 235) e cristão (pag. 254). Viu-se proibido de estudar a língua (pag. 66, 254), de adquirir manuscritos, tendo estado preso por nove meses (pag. 235) e correu perigo de vida (pag. 66, 84, 86, 235). Perdeu o seu professor, o que o deixou muito desanimado (pag. 225, 254).

Clenardo declarou na Corte do Sultão que se queixaria ao Imperador e de facto fê-lo na carta de 17 de Janeiro de 1542 (pag. 248).

Clenardo é demasiado vago para podermos saber o que se passou realmente. Roersch identifica o “monstro”, como sendo Sebastião de Vargas, feitor português na cidade de Fez, de 1538 a 1544.

É possível que Clenardo exagere ao dizer que esteve preso. Foi abandonado pelo Cônsul Português (pag. 242) e foi alimentado por caridade pelos seus dois escravos (pag. 240, 242); em Outubro de 1540, teve de recorrer aos usurários.

A partir desta data, tudo começou a correr mal para Clenardo.

 

O ABANDONO DE PORTUGAL

 

Nesta altura, ainda Clenardo tinha esperança de continuar a receber do Infante D. Henrique a pensão anual de 100 000 réis. Seguindo Roersch, Clenardo em 4 de Dezembro de 1540, tem 200 ducados de dívidas em África (pag. 227). Mas tinha recebido 100 ducados em 4 de Julho anterior (pag. 224) e o Infante D. Henrique ficar-lhe-ia a dever duas anuidades da sua pensão no Janeiro seguinte, isto é, 400 ducados de ouro (pag. 228). Diz ele que o Infante lhe tinha escrito duas vezes e lhe prometera enviar o dinheiro de que necessitasse (pag. 234).

Mas, depois, ele nada recebe da Corte. Clenardo fica inquieto e envia Guilherme a Portugal (pag. 73) em Abril de 1541; este volta em Agosto do mesmo ano com notícias tristes (pag. 213). Clenardo tem de deixar África, mas tem dívidas a pagar e o dinheiro que Guilherme trouxe, não chega (pag. 239).

Resta-lhe um amigo seguro a quem ele pede dinheiro por mais de uma vez: Jean Petit, o Bispo de Cabo Verde (pag. 224, 227, 239, 244). Este satisfaz todos os pedidos. Clenardo agradece-lhe efusivamente (pag. 231).

Clenardo quer esclarecer todas as dúvidas da disposição da Corte para com ele e mais uma vez envia Guilherme a Portugal, dizendo-lhe para, desta vez, falar com o Infante (pag. 232). A resposta, tê-la-á em Granada.

Com o dinheiro que lhe enviou Jean Petit, deixa Fez e chega a Arzila a 8 de Setembro de 1541. Por azar, parte um braço numa queda do cavalo, que também o impede de escrever. Duas semanas depois, decide regressar a Granada por Galés e Málaga (pag. 244). Não sabemos se seguiu esse caminho. Mas, a 17 de Janeiro de 1542, escreve a carta a Carlos V, onde diz estar há poucos dias em Granada.

Certamente em África, tinha escrito a sua Carta à Cristandade (pag. 256 e ss.) que deixou incompleta, uma carta bastante formal em que ele descreve a sua vida e os seus projectos.

Há ainda outra carta dirigida a Jean Petit em 1 de Setembro de 1542 (pag. 245), onde ele lhe agradece mais uma remessa de 60 000 réis e diz que vai regressar a África. Queixa-se amargamente de Portugal: In præsentia non possum amplius nisi lacrimari quod sic me tractavit Lusitania (pag. 246) -- Por agora não posso mais, senão  chorar por Portugal me ter tratado deste modo.

Terá caído doente e veio a falecer em 5 de Novembro de 1542.

 

AS PUBLICAÇÕES

 

TABULA IN GRAMMATICEN HEBRAEAM

 

Não é possível referir o primeiro livro de Clenardo sem falar da relação dele com Jan Van Campen (Campensis). Este conseguira o lugar de professor de Hebraico no Colégio das Três Línguas e publicara um Manual ainda antes de Clenardo. Clenardo quis fazer um tratado mais claro e mais simples e (diz ele) teve até a preocupação de não querer emendar o Campensis (pag. 210). Ao contrário do que já se disse, Clenardo não foi aluno do Campensis, mas conhecia as lições dele. O livro de Clenardo teve mais sucesso. Como professor, Van Campen não era popular e desistiu de ensinar em Novembro de 1531. Clenardo escreveu-lhe mais de uma carta, mas ficou aborrecido quando ele não respondeu, embora mandasse cumprimentos por Polites (pag. 98), por isso decidiu não lhe escrever mais.

Roersch refere 38 edições da Tabula de Clenardo, de 1529 a 1689.

 

INSTITUTIONES IN LINGUAM GRAECAM

 

Como já referido as Institutiones in Linguam Graecam foram publicadas a 27 de Abril de 1530, impressas na Tipografia de Rutgerus Rescius. Têm quatro partes intituladas:

- Institutiones absolutissimae

- Annotationes in nominum verborumque difficultates

- Investigatio thematis in verbis anomalis

- Compendiosa et luculente Syntaxeos ratio.

Durante 250 anos ( !) repetiram-se as edições da gramática de Clenardo ou de compêndios nela baseados, muitas vezes acrescidos de anotações de escoliastas. É impressionante como um homem que morreu na miséria deu tanto dinheiro a ganhar a outros! Por vezes, as edições nem indicam o nome de Clenardo; outras referem que são compêndios ex-Clenardo. Assim o Prof. Carlos Morais, de Aveiro, provou que a gramática grega impressa pelos Jesuítas em 1594 na oficina de António Mariz, de Coimbra, com o título “Graecae nominum ac verborum inflexiones in vsum tyronum”, vem das Institutiones de Clenardo, com poucas modificações. A edição seguinte, em 1595, menciona já o nome de Clenardo.

Roersch refere 168 edições das Institutiones de 1530 a 1783.

 

MEDITATIONES GRAECANICAE IN ARTEM GRAMMATICAM

 

Foi acabado de imprimir na oficina de Rutgerus Rescius em 11 de Julho de 1531. Logo a seguir foi publicado também em Paris.

O livro é um texto prático destinado ao ensino da língua grega: a carta de São Basílio a São Gregório de Nazianzo, com a interpretação de Budé e a tradução palavra por palavra de Clenardo. Junta-lhe depois um nunca mais acabar de notas.

Roersch elenca 45 edições das Meditationes, de 1531 a 1598.

 

INSTITUTIONES ET MEDITATIONES

 

A certa altura, começaram a publicar-se edições conjuntas das Institutiones e das Meditationes.

Roersch elenca 40 edições de 1545 a 1643.

 

INSTITUTIONES GRAMMATICAE LATINAE

 

Para ensinar em Portugal, Clenardo compôs uma gramática latina, cuja primeira edição foi publicada em Braga, impressa na oficina de Guilherme de Trajecto em 1538. Está online na BNP.

Clenardo ficou aborrecido por o seu trabalho não ser apreciado: Valde ut intelligo vapulat ea Grammatica, quam  edidi Braccaræ, nec placet Lusitaniæ – (pag. 242) - Segundo sei, a Gramática que publiquei em Braga é muito criticada e não agrada a Portugal.

Mais tarde Johannes Vasaeus preparou uma edição revista e aumentada que foi publicada em Coimbra em 1546:

Institutiones Grammaticae latinae / Nicolai Clenardi; per Ioannem Vasaeum burgensem auctae & recognitae; eiusdem Praeceptiones aliquot de ratione docendae atq[ue] exercendae linguae Latinae. Impressæ Conimbricæ: sumptibus Ioannis Philippe bibliopolæ Cardinalis Infantis Henrici, 1546.

 E outra publicada em Salamanca por volta de 1551:

Institutiones grammaticae Latinae Nicolai Clenardi / per Ioannem Vasaeum Brugensem auctae & recognitae; eiusdem Praeceptiones aliquot de ratione docendae atq[ue] exercendae linguae Latinae. Et Ioannis Vasaei De orthographia praeceptiunculae. Salmanticae: excudebat Ioannes Iunta, [ca. 1551], [ 2], 179 [i.e. 158] h.; 8º

Aparece no Google Books mais esta edição de Lovaina, em 1550:

Nicolai Clenardi Institutiones Gramaticae Latinae. Item de syllabarum et Carminum ratione. Omni recens nata. LOVANII, apud Petrum Phalesium Bibliopolam iurat. M. D. L. Cum gratia et privilegio. 

Roersch não refere as edições de Lovaina e de Salamanca.

  

DE DISCENDA LINGUA LATINA

  

Sem dúvida, Clenardo pensava em Latim. Nem podia deixar de ser, já que ele falava Latim em França, Espanha e em Portugal, pois nunca aprendeu nenhuma língua destes países.

Por isso, ele defendia um método de aprendizagem do Latim com o seu uso na linguagem corrente, defendendo que o professor apenas devia falar Latim com os seus alunos; tal como ele Clenardo falava Latim com os seus escravos.

Em 1576 Nicolas Mameranus, irmão do livreiro Henricus Mameranus publicou um livrinho que já havia sido preparado por Rutgerus Rescius e lhe tinha sido transmitido por Johannes Vuamesius, esposo da viúva de Rescius, que inclui escritos de Clenardo sobre esse método de ensino.

Noua methodus docendi pueros analphabeticos, breui omnino temporis spatio Latinè loqui, præsertim intra priuatos parietes. Item, præceptiones aliquot latinæ linguæ exercendæ perutiles, per Nicolaum Clenardum, praeceptorem, olim editae. Francofurti ad Moenum, apud Nicolaum Bassaeum 1576.  In-8.º, de 61 pgs.

Lá estão:

- a carta de Clenardo a Rescius, de Março de 1535, Hodie Pascha est (pag. 126-129);

- a carta de Clenardo a Vasaeus, de 3-1-1536 Hodiernus dies (pag. 187-212)

- Trechos de cartas didácticas inéditas enviadas a Vasaeus em 1535/1536.

 

OUTRAS OBRAS

 

Clenardo preparou ainda as seguintes edições:

 

- S. João Crisóstomo,

Ἰωαννου Χρυσοστομου περι του, ὁτι πολλου μεν ἀξιωματος, δυσκολον δε ἐπισκοπειν, διαλογοι ἑξ

Quod multe quidem dignitatis, sed difficile sit episcopum agere, dialogi sex

Louanij : per Rutgerum Rescium et Ioannem Sturmium, 1529, XIV Kalen. Decemb., 72 fls., in 4.º

 

Edição bilingue preparada para os seus alunos de Grego, em Lovaina. Clenardo assina a carta ao leitor.

 

- Tito Lívio

T. Livii Patavini Historici, ab urbe condita decadis prime liber j ad utilitatem studiosorum,  in formam enchiridij redactus. Additus index vocabulorum insignium, unde usus linguæ latinæ facilius percipi possit. In 8.º. Impressum Salmanticæ in edibus Joannis Juntæ bibliopolæ . M D XXXIII Cal. Junii.

Edição preparada para ser oferecida a Fernando Colombo. No exemplar da Biblioteca Colombina este escreveu com o seu punho: "Hunc librum misit mihi Nicolaus Clenardus anno 1534."

 

CARTAS DE CLENARDO

 

Em 1550, o sobrinho de Jacobus Latomus, antigo aluno de Clenardo, publicou em Lovaina as cartas que este seu mestre tinha escrito a seu tio, juntando-lhe as que Hoverius tinha recebido e de que lhe dera cópia. Deu-lhe o título “Peregrinationum, ac de rebus Machometicis epistolæ elegantissimæ “. Com o mesmo título, publicou uma segunda edição em 1551 e uma terceira em 1561, onde juntou as cartas escritas a Streyters, a Polites, a M. Vorda e a Rutgerus Rescius.

O botanista Charles de l’Écluse (Clusius), tendo conhecido em Espanha a Augustinus Vasaeus, filho de Johannes Vasaeus, encontrou mais cartas e, regressado a Bruxelas, deu-as a Plantin, que as imprimiu em 1566. Esta edição incluía todas as cartas de Clenardo conhecidas na altura. Em 1606 foi feita uma reedição com o mesmo conteúdo em Hannover, edição que vem sendo citada neste texto.

A publicação das cartas conhecidas de Clenardo (poucas mais que as da edição de 1606) foi feita por Roersch no 1.º volume dos três que compõem a sua “Correspondance de Nicolas Clénard”; o 2.º volume tem as anotações às cartas e o 3.º a tradução de 42 das 64 cartas.

Também M. G. Cerejeira incluiu na sua tese de doutoramento a tradução total ou parcial de 22 cartas (ver quadro).

No final do Sec. XIX, Joaquim de Vasconcellos concebeu o projecto de uma edição das cartas de Clenardo em Latim, cujo plano se encontra nas pags. 65-66 do volume n.º 48 (1901) de O INSTITUTO, com o título “Índice da segunda colecção”. Imprimiu as 285 páginas previstas, mas não chegou a completar a edição, prevista como n.º 13 da Archeologia Artística; deixou-a brochada com uma capa provisória. Não sei quantos exemplares fez, mas encontrei há poucos meses um numa alfarrabista de Lisboa, que me deu muito prazer adquirir. Joaquim de Vasconcelos costumava comunicar as suas descobertas para o estrangeiro como fez neste caso com Roersch a quem enviou cópia da carta de Damião de Góis a Clenardo.

 

CARÁCTER DE NICOLAU CLENARDO

 

Clenardo era grande e corpulento, longus et gravi corpore (pag. 276), sofria com o calor, mas, passados uns anos, temia já os frios do norte da Europa. Gostava de comer bem e de beber um copito (com moderação) e, como bom nórdico, adorava a cerveja (pag. 222).

Era um tipo extrovertido, por vezes impetuoso, que gostava de contar uma boa anedota. Cultivava as amizades, mas exigia fosse retribuído.

Acima de tudo, amava a sua terra, e a sua cidade, Lovaina; por aproximação, a Flandres. Foi quase à força que foi tirado de lá. Por isso, Roersch, o seu biógrafo chama de “exílio”a vinda para a Ibéria, o que está certíssimo. De certo modo, todo o emigrante é um exilado. Nem admira que Clenardo diga mal de Portugal, e não é apenas porque somos mais pobres do que a Espanha ou a Bélgica. Era a saudade do seu País que o levava a sentir-se mal noutros lados.

Toda a sua felicidade estava no estudo. A estudar e a ensinar é que se sentia realizado. Tinha também ambições. Terá ficado muito desiludido por não conseguir um lugar condigno no meio universitário de Lovaina.

Apesar de gostar de se divertir, era disciplinado e sério nas suas relações. Não quis que lhe atribuíssem uma paróquia ou uma função na Igreja, porque não sabia e não lhe apetecia aprender Português e não poderia contactar com os paroquianos. Tal atitude era rara naquele tempo.

Estou convencido que o Infante D. Henrique, depois Cardeal, não pode ter gostado dele. Tinha de ouvir uma hora por dia aquele gigante desajeitado que só lhe falava em Latim, mas que não tinha papas na língua e dizia tudo o que lhe vinha à cabeça. Sem dúvida preferiria a ele o seu secretário Jorge Coelho, que ali estava sempre atencioso e disponível. 

Clenardo deve ter ficado muito surpreendido quando descobriu o ódio anti-semita do seu real aluno, ele que em Fez não teve pejo em viver no bairro judeu.

Era um bom pedaço ingénuo, como demonstra a sua “cruzada pacífica”, a ideia de estudar Árabe, para depois criar uma escola no Brabante que permitisse traduzir e decifrar o Alcorão e converter os muçulmanos pela persuasão. Não concordo com os que afirmam que esta ideia lhe foi sugerida por Juan-Luis Vives ou por outra pessoa. Ele era suficientemente inteligente para tomar esta iniciativa.

Também era uma ingenuidade ensinar Latim como se se tratasse de uma língua viva. Acho que nunca os alunos a falariam bem como ele. Mas lá nos diz ele que falava sempre em Latim com os seus escravos  - Non ago cum eis nisi Latine (pag. 116).

Clenardo tinha, apesar de tudo, algumas contradições no seu comportamento. Por exemplo, deixou de escrever a Jan Van Campen, porque este não lhe respondia, mas continuou sempre a escrever a Jacobus Latomus, apesar de este também não lhe responder. Aqui entrava em jogo o prestígio de Latomus, o teólogo eminente, o único polemista que Lutero respeitava, dizendo que, ao pé dele, os outros eram umas rãs a coaxar no charco (até Erasmo):  Unus Latomus scripsit contra Lutherum; reliqui omnes, ut Erasmus, fuerunt ranæ.

  

ESTUDOS SOBRE NICOLAU CLENARDO

 

A vida e obra de Nicolau Clenardo começaram a ser devidamente estudadas na Bélgica em meados do Sec. XIX. Adolphe Roersch estudou-as praticamente durante toda a vida. Nos anos 40 do Sec. XX, publicou os três volumes da Correspondance de Nicolas Clénard, muito bem documentados e só é pena que não tenha feito a tradução da totalidade das cartas.  Já o estudo que no início do século publicara em co-autoria com Victor Chauvin, é um excelente trabalho, que ainda hoje tem todo o interesse em ser consultado. Mas vários outros autores belgas escreveram sobre Clenardo.

Em Portugal, estudou o autor o Cardeal Cerejeira, que sobre ele fez a sua tese de doutoramento em Coimbra, apresentada em 1919. Esta tem sido apreciada geralmente de um modo reverencial, dada a posição do seu autor. Mas em 2003, Jeroen Dewulf, leitor de Neerlandês na Faculdade de Letras do Porto publicou um artigo bastante crítico do livro, com o qual não posso deixar de estar de acordo. Cerejeira sobrevalorizou muito as cartas de Clenardo como retrato do Portugal da época. Na sua descrição de Portugal, as cartas de Clenardo são as impressões de um turista, que nunca se integrou na sociedade portuguesa. Ele não conheceu o País. Por outro lado, estava aqui insatisfeito, cheio de saudades da sua Lovaina. Era um emigrante, um exilado: estes projectam no País onde estão a insatisfação que sentem e a saudade da sua terra.  As “impressões” de Clenardo não podem servir para averiguar as causas da decadência do Império Português, que são bem mais profundas do que a “preguiça” dos portugueses.

A tradução das cartas no livro de Cerejeira sem ser incorrecta é por vezes “redonda” demais; as poesias não estão traduzidas. A apresentação é irritante, pois mistura resumos e tradução do mesmo modo e com idênticos caracteres, desnorteando o leitor.

O livro de Cerejeira contribuiu para a ideia de que Clenardo ficou célebre por ter vindo para Portugal, quando afinal ele é célebre é pelos seus livros, publicados antes de vir para cá.

 

CITAÇÕES DAS CARTAS DE CLENARDO

 

    As páginas do livro de M.G. Cerejeira referem-se à edição de 1974.  

 

Portugal e os Portugueses

 

Verum ita mihi ea regio placuit et tanta commoditas fuit in locis omnibus ut eam præferam multis Lusitaniis et majore cum voluptate apud Galaecos vixi quam inter Durium et Minium. Negari non potest quin hinc ad Minium usque mira fit montium et agrorum amœnitas. (218)

 

Não se pode negar seguramente que em toda a região desde Braga até ao rio Minho, os montes e os campos são de uma admirável beleza deleitosa, e que a água jorra por toda a parte de fontes que só por si eram bastantes para me encantar. (Cerejeira,307)

 

 

 

Cæterum, vinum, panis, carnes, et quaecunque lassis viatoribus conveniunt, longe meliora sunt in Galecia quam in Lusitania. (218)

 

Certo é que o vinho, o pão, a carne, tudo aquilo enfim que convém a viajantes cansados, se encontra na Galiza muito melhor que em Portugal. (Cerejeira, 307)

 

 

 

Mense Julio calent hoc omnia, usque adeo, ut vix urbe tota puteum reperias, qui non penitus aqua destituatur. Nisi siccis faucibus perire velent, ante diem foris petenda est aqua. (29)

 

 

[Em Évora] No mês de Julho tudo aqui fica abrasado e a tal ponto que na cidade inteira dificilmente se encontra um poço que não seque completamente. Para se não morrer à sede, é necessário mandar fora buscar água antes do romper de alva. (Cerejeira, 263)

 

 

 

Sed priusquam in illud desertum ingressi sumus, pridie será nocte diversiorum subivimus, quod unum par fuissey expiando Erasmo,sic infamanti Germaniam. (295)

 

 

Antes de entrarmos no tal sertão, chegámos já por horas mortas a uma hospedaria, mas que hospedaria, senhores! só ela de per si era suficiente para fazer expiar a Erasmo o ter coberto de descrédito a Alemanha por causa das suas estalagens. (Cerejeira, 371)

 

 

 

 

Verum ubi primum ingressus sum Eboram, putabam me venisse in civitatem aliquam Cacodæmonum; tot ubique occurrebant Æthiopes, quos ego sic detestor, ut vel soli queant me hinc depellere. (24)

 

 

Mal pus pé em Évora, julguei-me transportado a uma cidade do inferno: por toda a parte topava negros, raça por que eu tenho tal aversão, que só eles por si bastariam para me fazer abalar daqui. (Cerejeira, 258)

 

 

 

 

Si qua gens ignavo ocio dedita est, nisi sit Lusitanica, nulla est prorsus. Loquor de nobis hic potissimum, qui ultra Tagum incolimus et Africa propius olfacimus. (17).

 

Se há algum povo dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele exista. Falo sobretudo daqueles que habitam além do Tejo e que respiram de mais perto o ar de África. (Cerejeira, 251)

 

 

 

Omnes enim hic sumus nobiles, et magni probri instar est, aliquam profoteri artem. (20)

 

 

Em Portugal, todos somos nobres. e tem-se como uma grande desonra exercer alguma profissão. (Cerejeira, 253)

 

 

 

 

Quod nisi externorum et nostratium turba, machanicas istas artes hinc exerceret, puto ægre vel calcearium, vel tonsorem haberemus. (18)

 

 

Se uma grande quantidade de estrangeiros e de compatriotas nossos não exercessem cá as artes mecânicas, creio bem que mal teríamos sapateiros ou barbeiros. (Cerejeira, 251 )

     

Mancipiorum plena sunt omnia.  Aethiopes et Mauri captivi, omnia obeunt munia, quo genere hominum tam est referta Lusitania, ut credam Ulyssipone plures esse huiusmodi servos, et servas, quam sint liberi Lusitani. (20)

 

 

Os escravos pululam por toda a parte. Todo o serviço é feito por negros e mouros cativos. Portugal está a abarrotar com essa raça de gente. Estou a crer que em Lisboa os escravos e as escravas são mais que os portugueses livres de condição.(Cerejeira, 253)

 

 

 

… ut mihi tanquam columbas alere videantur, et adeo non offendi ancillæ concubitu, ut etiam admissariis equis gaudeant et partus ventri cedat, non vicino sacerdoti, aut nescio cui Æthiopi et captivo. (20)

 

 

Chega-me a parecer que os criam como quem cria pombas para levar ao mercado. Longe de se ofenderem com as ribaldias das escravas, estimam até que tal suceda, porque o fruto segue a condição do ventre. (Cerejeira, 254)

 

 

 

 

Eiusmodi charissime Latome fastuosos ραφανοφαγόσ multos hic reperias, et tamen plures secum foris trahunt famulos quam domi consumant regalia. (26)

 

Há aqui uma chusma desses faustosos, que trazem todavia pela rua atrás de si maior número de criados do que de reais gastam em casa. (Cerejeira, 259)

 

 

 

 

Quod si me ad ingenium terræ vernaculum accommodarem, ante omnia mulam alerem et ministros quatuor. Qui posses? Jejunarem domi, foris splendide triumpharem. (25)

 

 

Se quisesse condescender com os costumes desta terra, começaria por sustentar uma mula e quatro lacaios. Mas como seria possível? Jejuando em casa, enquanto brilhava fora como um triunfador. (Cerejeira, 259)

 

 

 

 

 

Nam, ut hoc quoque obiter aspergam, mihi per omnem Hispaniam vere παιδημοσ esse Venus apparet, non minus quam olim celebratur apud Thebanos., maxime tamen in Lusitania, ubi credo monstrum esset κορίδιοσ sponsu. (20)

 

 

Vénus em toda a Espanha, tem culto público não menos que outrora em Tebas e mormente em Portugal então onde creio que seria uma coisa extraordinária ver um mancebo contrair uma ligação legitima. (Cerejeira, 254)

 

 

 

Rerum omnium caritas non dicam pluris esse Rhenensem Louanii, quam hic ducatum aureum. (17)

 

 

Não há terra onde todas as coisas sejam tão caras: não direi sequer que um thaler do Reno em Lovaina vale mais do que um ducado de oiro aqui em Portugal. (Cerejeira, 250)

 

 

 

 

Et vivendi genus illud, etsi remotissimum a nostratium moribus, hac tamen parte nunc Félix arbitror, præ ut ut hic vivitur. Nam Salmanticæ rerum certe omnium est copia, et familiam componere licet more Barbantino si libeat: ministros, ancillas, et reliqua omnis compares et tractes ut liberos homines decet. (24)

 

 

O género de vida que eu lá levava, embora fosse totalmente diferente do nosso, parece-me agora a própria felicidade, em comparação com o que se leva em Portugal. Em Salamanca há pelo menos abundância de tudo e pode-se pôr casa à moda de Brabante. (Cerejeira, 258)

 

 

 

 

 

Quæris quo pacto? Institui æstate superiore familiam duobus emptis mancipiis, quibus nuper adieci tertium. (116)

 

Queres saber como? Neste verão passado estabeleci família, comprando dois escravos, aos quais ajuntei terceiro, há pouco.” (Cerejeira, 291)

 

 

 

Cum studere non libet, his me oblecto tanquam simiis. (116)

 

 

Quando não estou para lhes [aos seus escravos negros] dar lição, divirto-me com eles, como macacos.” (Cerejeira, 292)

 

 

O humor de Clenardo

 

Vivo hic inter Judæos qui longe magis mirantur esse Christianos, quam nos miramur esse aliquos adhuc Judæos. Quid mirum? Nihil enim sciunt de nobis, nisi quod strenue Judæos comburimus. (228)

 

 

Aqui vivo entre Judeus que mais se admiram de ainda haver cristãos, que nós de haver alguns Judeus. Porém, que admiração, se de nós nada mais sabem que a nossa valentia a queimar Judeus! (Cerejeira, 326)

 

 

 

 

Extra jocum, facile Rex adduci possit, ut insignem aliquem habeat Judæum, qui doceat Conimbricæ. Judæum? Quid ni? Sunt hic Fesæ doctissimi qui sic callent Hispanice, ut ego Flandrice. (229)

 

 

Fora de gracejos: talvez não fora difícil convencer El-Rei a contratar algum judeu notável a vir ensinar em Coimbra. Judeu? E porque não? Aqui estão em Fez alguns doutíssimos, tão versados na língua hispânica como eu na flamenga. (Cerejeira, 327)

 

 

 

 

Didici adagium, quod non noverat adagiosus Erasmus: Opes perdunt Chrstiani litigando, Judei conviviis festorum, Mauri celebrandis nuptiis. (55)

 

 

Aprendi um adágio que o “adagioso” Erasmo não sabia: “Os Cristãos arruínam-se nos processos, os Judeus em banquetes e os Árabes celebrando as núpcias”.

 

 

 

 

Resendio interdicatur anno toto arte poetica et agricultura, nec liceat ei scrutari vetera marmora. Vaseo aunt vino careat trib. mensibus, nisi forte gratis ad eum miserit Resendiu aut Petrus Gomerius. (58)

 

 

Resende e Vaseu, esses, se derem alguns ducados àqueles vagabundos (os sobrinhos de Clenardo que viessem a Portugal reivindicar a hipotética herança dele), a Resende fique interdita durante um ano inteiro a arte poética e a agricultura e ser-lhe-á proibido andar a decifrar esses mármores velhos; Vaseu, basta que não beba vinho durante três meses, excepto se porventura lho mandarem de graça, o Resende ou Pedro Gomes.  (Cerejeira, 335)

 

 

Continua aqui                                          

 

 

 

  CARTAS   DE   CLENARDO      

 

 

A. Roersch,  Correspondance     de Nicolas Clénard Edição de 1606 Cerejeira, 1.º vol.  

Data

Destinatário      

N.º de ordem

        Início 

N.º de ordem Páginas Edição de 1974  

 

 

Latim - 1.º vol.   Trad. para Francês, 3.º v.   Pagina inicial   

1-5-1528

Clenardo  1 Subinde…       [a]

30-1-1529

Ao Leitor 2 Linguam Hebr…       [b]

1-8-1529

Ao Leitor 3 Cum tantum…       [c]

16-3-1530

Hoverius 4 Cum ante… I     [d]

21-10-1530

Hoverius 5 Accepi… II 75 - 76    

11-5-1531

Dantiscus 6 Sedulitatem…       [e]

20-6-1531

Hoverius 7 Casum… III 74 - 75    

20-6-1531

Canta 8 Saepe numero…       [f]

20-6-1531

Ao Leitor 9 Grammaticorum…       [g]

28-7-1531

Tartas 10 Salve doctorum…       [h]

23-8-1531

Polites 11 Nihil peccatum…   90    

16-2-1533

Vasaeus 12 Multa…   140 - 141    

24-2-1533

Vasaeus 13 Scripsi… IV 142 - 143    

29-4-1533

Vasaeus 14 Acceptis iam…   143 - 144    

14-5-1533

Colombo 15 Inter tam… V     [i]

5/6-11-1533

Vasaeus 16 Literae tuae… VI 145 - 149    

31-12-1533

Vasaeus 17 Audi fabulam… VII 160  - 162 243  

24-4-1534

Vorda 18 Quidnam agis… VIII 122 - 124    

27-6-1534

Vasaeus 19 Iam scripsi…   162 - 163    

22-8-1534

Vasaeus 20 Ad nullam…   164    

24-12-1534

Vasaeus 21 Scis, mihi… IX 149 - 160    

23-3-1535

Rescius 22 Redeunti mihi… X 129 - 132    

24-3-1535

Latomus 23 Non dubito…   9 -14 246  

26-3-1535

Latomus 24 Puto te… XI 14 -30 247  

28/29-3-1535

Rescius 25 Hodie Pascha… XII 126 - 129 265  

3-7-1535

Vasaeus 26 Mirifice…   165 - 167    

30-9-1535

Vasaeus 27 Ne nunc…   167 - 169    

2-10-1535

Vasaeus 28 Pro tam…   169 - 181    

6-11-1535

Vasaeus 29 Hanc nuper   181 - 185    

3-1-1536

Vasaeus 30 Antequam literas…   186 - 187    

22-4-1536

Polites 31 Semper tu… XIII 91 - 98    

23-9-1536

Fernandez 32 Qui has… XIV   269 [j]

2-10-1536

Rescius 33 Gratulor… XV 132 - 135    

15-12-1536

Hoverius 34 Itane… XVI 76 - 79    

26-12-1536

Aleandro 35 Si antehac… XVII   271 [k]

27-12-1536

Polites 36 Inter Graecos…   98 - 118 275 [l]

Início-1-1537

Coelho 37 Pridie…   215 - 217 293  

10-1-1537

Vorda 38 Semel… XVIII 124 - 126    

8-7-1537

Polites 39 Literas tuas… XIX 118 - 122 296  

18-7-1537

Vasaeus 40 Hodiernus… XX 187 - 212 301 [m]

19-7-1537

Clenardo  41 Literae tuae…       [n]

21-8-1537

Latomus 42 Multis paginis… XXI 30 - 35    

8-9-1537

Jean Petit 43 Literas quas… XXII 217 - 224 307  

6-12-1537

Fr. Brás de Braga 44 Oro ne… XXIII   313 [o]

27-2-1538

Hoverius 45 Ne putes… XXIV 79 - 80    

9-9-1538

Hoverius 46 An tam… XXV 80 - 81    

12-7-1539

Latomus 47 Et si magnam… XXVI 35 - 49 315 [p]

7-4-1540

Latomus 48 Et si literas… XXVII 49 - 51    

15-4-1540

Latomus 49 In Gibalaltar… XXVIII 52 - 56    

21-4-1540

Latomus 50 Sabbato… XXIX 56 - 57    

8-5-1540

Latomus 51 Die XXIX. Aprilis… XXX 57 - 58    

5-7-1540

Jean Petit 52 Epistolam tuam… XXXI 224 - 227 321  

4-12-1540

Jean Petit 53 Nuper paucis… XXXII 227 - 231 325 [q]

9-4-1541

Latomus 54 Sola nominis… XXXIII 58 - 74    

12-4-1541

Streyters 55 Solent, optime… XXXIV 81 - 90    

5-8-1541

Jean Petit 56 Non sum par… XXXV 231 - 233 328  

5-8-1541

Vasaeus 57 Si sum… XXXVI 213 343  

21-8-1541

Jean Petit 58 Gulielmus gratia… XXXVII 233 - 243 331  

21-8-1541

Vasaeus 59 Gulielmus his… XXXVIII 213 - 214 343  

18-9-1541

Jean Petit 60 Visum fuit… XXXIX 243 - 245 341  

17-1-1542

Carlos V 61 Solenne… XL 248 - 255    

1-9-1542

Jean Petit 62 Epistolam misisti… XLI 245 - 248 345  

1540-1541

Aos cristãos 63 Quando sum… XLII 256 - 307 349 [r]

1535-1536

Vasaeus 64 Nihil magis…       [s]
 
 

N O T A S

 

[a] Dedicatória de Alardo de Amsterdão a Clenardo no livro de Rudolfo Agrícola (ver Bibliografia)

[b] Prefácio de “Tabula in Grammaticen Hebraeam”

[c] Prefácio de “Divi Joannis Chrysostomi, quod multae quidem dignitatis sed difficile sit episcopum agere, dialogi sex”, Louvanii, 1529

[d] Dedicatória a Fr. Hoverius das “Institutiones in linguam graecam”, 1530

[e] Carta publicada em 1934 por H. de Vocht nos Monumenta Humanistica: Texts and studies about Louvain humanists in the first half

                        of the XVIth century, Erasmus - Vives -Dorpius - Clenardus - Goes – Moringus, Louvain, Librairie Universitaire, 1934., pp. 420-423.

[f] Prefácio das Meditationes Graecanicae, 1531

[g] Carta publicada por M. Nève na Revue belge de philologie et d’hist., t. IX, 1930, pp. 887-896

[h] Carta publicada por Joaquim de Carvalho em O INSTITUTO, Coimbra, t. LXXIII, 1926, pag. 237 - 254

[j] Publicada por Mário Brandão em 1936 (ver Bibliog.)

[k] Publicada por A. Roersch e V. Chauvin em 1902, em Musée belge, t. VI, pag. 330-342, reproduzida em Persée  (ver Bibliog.)

[l] A trad. em Cerejeira é de Martins Capela; não traduziu as poesias.

[m] Trad. parcial em Cerejeira

[n] Carta de Damião de Góis-Publicada em 1544 nos Aliquot Opuscula

[o] Publicada por Mário Brandão em 1936 (ver Bibliog.)

[p] Trad. parcial em Cerejeira

[q] A trad. em Cerejeira é de Martins Capela

[r] Incompleta. Tradução parcial em Cerejeira

[s] Publicada em 1576 em Nova methodus docendi pueros-Fragmentos de diversas cartas